Imagem ampliada do Schistosoma mansoni, parasita causador da esquistossomose
Foto: Reprodução Internet
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Agência Brasil
Um grupo de 118 pesquisadores de 11 países – 15 do Brasil –, que trabalharam na Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais (Fiocruz Minas), conseguiram fazer o sequenciamento do genoma do Biomphalaria glabrata, espécie de caramujo hospedeiro intermediário do verme que causa a esquistossomose. A doença afeta aproximadamente 240 milhões de pessoas no mundo.
Essa espécie de caramujo é o melhor hospedeiro que existe na natureza, disse nesta segunda-feira (12) o pesquisador Omar dos Santos Carvalho, do Grupo de Helmintologia e Malacologia Médica (HMM) da Fiocruz Minas, que participou do estudo.
Segundo ele, essa espécie de caramujo existe em todo lugar no Brasil que tem esquistossomose, pela distribuição dele e pela alta suscetibilidade ao parasita. Ele disse que a disponibilidade do genoma para a comunidade científica abre um caminho importante para que se trabalhem os genes que estão nesse genoma e que levem ao controle desse molusco ou possam torná-lo resistente à infecção ao Schistosoma mansoni, causador da doença.
O trabalho sobre o sequenciamento do genoma foi publicado na revista científica internacional Nature Communications. Com os dados desse estudo, que durou 15 anos, já foram publicados mais de 50 artigos, informou Carvalho.
Resistência
Pesquisadores já trabalham para tornar esse molusco resistente à infecção ao parasita. No próprio HMM da Fiocruz Minas, a doutora Marina Mourão coordena uma pesquisa com financiamento da Comunidade Europeia. Ela tenta descobrir qual é o gene responsável pela facilidade que esse molusco tem para adquirir a esquistossomose, de modo a torná-lo resistente.
O pesquisador Omar Carvalho disse que esse é o grande trabalho a ser feito e terá impacto não só no Brasil, mas em outras partes do mundo que têm a doença, como o Caribe e a África. “Se algum colega conseguir isso, vai ser um passo extremamente importante no sentido de controlar a esquistossomose”, disse o pesquisador. A doença ocorre principalmente no Nordeste do Brasil. Há grande prevalência também em Minas Gerais.
De acordo com o pesquisador, o estudo começou com a coleta de moluscos em Minas e a classificação tanto pela morfologia como pela biologia molecular. “Eles foram infectados para ver se funcionavam realmente com igualdade de condições às outras Biomphalaria glabrata que nós tínhamos no laboratório. A pesquisa começou aqui, em Belo Horizonte, e depois de 15 anos teve essa publicação que é muito importante e tem um impacto muito grande tanto na América, como na África, entre outros lugares”. A captura e caracterização dos caramujos foram efetuadas pelos pesquisadores Omar Carvalho, Roberta Caldeira e José Amorim da Silva.
Carvalho disse que qualquer pesquisador do mundo pode agora pegar os dados do sequenciamento do genoma dessa espécie de caramujo e utilizar para fazer outra pesquisa. “Depois que está publicado, é de domínio público”, lembrou.
Esquistossomose
Dados recentes concluídos pelo especialista Naftale Katz, coordenador do Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose e das Geo-helmintíases, do Ministério da Saúde, mostram que 1,5 milhão de pessoas podem estar infectadas com o Schistosoma mansoni, no Brasil. Omar Carvalho disse que o trabalho do doutor Katz mostra que a população infectada diminuiu muito devido a vários fatores, como saneamento básico em várias regiões ou surgimento de remédios novos.
De acordo com o inquérito, a transmissão ocorre de forma endêmica em Alagoas, na Bahia, no Maranhão, em Pernambuco e em Sergipe, na Região Nordeste, e em Minas Gerais e no Espírito Santo, na Região Sudeste. No período de 2001 a 2015, foram detectados aproximadamente 38 mil casos na área endêmica. Nesse mesmo período, houve uma média de 195 internações e 488 óbitos. O documento informa que no restante do país a maioria dos casos notificados é importada de áreas endêmicas, devido ao fluxo migratório de pessoas. Em 2015, foram notificados 4.356 casos, incluindo as formas graves da doença.
Omar Carvalho disse que a esquistossomose tem uma sintomatologia característica. Quando a pessoa adquire a doença, na fase inicial aparece vermelhidão e coceira na pele, febre alta, e enjoo e vômito, às vezes. “Os sintomas vão depender da quantidade de parasitas que estão penetrando. Quanto mais alta a carga de parasitas, a sintomatologia é mais acentuada também”. Na fase crônica, pode aparecer cirrose hepática e outros comprometimentos, como de medula óssea, por exemplo, com risco de levar à morte.
A esquistossomose é, atualmente, o segundo maior problema de parasitose no mundo, depois da malária. A doença é causada pelo Schistosoma mansoni, parasita que tem no homem o hospedeiro definitivo, mas que precisa de caramujos, como a espécie Biomphalaria glabrata, para desenvolver o ciclo evolutivo. A transmissão desse parasita ocorre pela liberação dos ovos pelas fezes do homem infectado.