Erminia Terezinha Menon Maricato, arquiteta, urbanista, professora, pesquisadora e ativista
Foto: Robson Rodrigues
Foto: Robson Rodrigues
Por meio de lives, a Frente Brasil Popular de Contagem continua realizando o Congresso do Povo com objetivo de debater como a cidade deve ser ocupada. O último encontro aconteceu na segunda-feira (20), com a participação da arquiteta e urbanista Erminia Maricato.
Além de arquiteta e urbanista, Erminia Terezinha Menon Maricato é professora, pesquisadora e ativista reconhecida pelo trabalho no campo do urbanismo e pela luta que busca a reforma urbana no Brasil. Ela elogiou a iniciativa dos integrantes do Congresso do Povo.
“Para mudar realmente as cidades é necessário fazer justamente o que vocês estão fazendo, procurar saber o que a população pensa e precisa. Muita gente me pergunta como podemos começar e vocês estão dando um modelo de como fazer. O Brasil precisa saber da experiência de vocês. É preciso mostrar esse novo ciclo que está se formando”, salientou.
Urbanização
De acordo com a arquiteta, o Brasil, a sexta economia do mundo, se industrializou e urbanizou, mas nas últimas décadas começou a se desindustrializar.
Ressaltou ainda que a partir de 1980, o Brasil virou um fazendão com o crescimento do agronegócio, com agressão ao meio ambiente e grilagem. “O Brasil é um país que teve 180 anos de escravidão e não dá pra se libertar facilmente. Quando o país começou se urbanizar, faltou respeito por parte da casa grande”.
Soluções descontinuadas
Erminia explicou que o Orçamento Participativo implantado em governos passados ficou famoso no mundo inteiro, mas infelizmente não teve continuidade. Na educação, a professora citou o exemplo dos Cieps criados no Estado de São Paulo. Que segundo ela, foram escolas que reuniram a arte e a cultura dando liberdade de criação ao ser humano. “Na época foi a solução encontrada para tirar as crianças das mãos da polícia e levar para as escola. Mas infelizmente isso também foi esvaziado”, lamentou.
Mobilidade urbana
Erminia disse que o custo com transporte público impacta muito no orçamento dos usuários, e atualmente, o transporte coletivo se tornou um dos maiores focos de transmissão do coronavírus.
“Nos países desenvolvidos, as prioridades na mobilidade são bem diferentes. Em primeiro lugar a caminhada, em segundo as bicicletas, em terceiro o transporte coletivo e em quarto os automóveis. As cidades brasileiras de meio porte estão crescendo muito e é preciso rever os projetos de mobilidade urbana, inclusive em Contagem”, explicou.
“Os trabalhadores e estudantes não podem suportar todo peso da tarifa do transporte público, por isso é fundamental ter subsídio”.
Saneamento básico
Erminia disse que não quer ser pessimista, mas para ela, a aprovação do Marco do Saneamento foi uma derrota muito grande.
“Temos não Brasil várias leis que não são cumpridas, muitas estão na Constituição como é a lei que garantiria o direito a moradia. A privatização do saneamento já se mostrou um equivoco em outros países. Empresas privatizadas visam lucros e com certeza as demandas mais caras ficarão a cargo dos governos, então porque privatizar?”, questionou.
Meio ambiente
Erminia enfatizou que os Planos Diretores precisam e devem ser de forma participativa como determina a lei e o Ministério das Cidades. “O uso e a ocupação do solo precisam ser ligados aos investimentos públicos, não a interesses privados”.
Participação da sociedade civil organizada
Segundo Geraldo Negão, o Sistema de Mobilidade de Contagem - Sim que está sendo implantado na cidade é um projeto ultrapassado que obriga os usuários a fazerem baldeações em terminais sem outras opções mais rápidas.
O Conselheiro Municipal da Juventude de Contagem Milton Leão disse que sempre teve dúvidas em saber quais espaços a juventude deveria ocupar nas cidades.
Laís Aghata falou da questão ambiental e ressaltou que o projeto de mobilidade de Contagem até pode ser bom, mas as supressões de milhares de arvores vai representar um retrocesso na sustentabilidade ambiental da cidade.
Já a professora Cristina Oliveira disse que tem duvidas como será a luta das cidades pós-aprovação do Marco do Saneamento. Ela ressaltou também a importância do controle social do orçamento público e da volta do orçamento participativo nas cidades.
Jefinho, sindicalista do SindEletro, reclamou que Contagem não tem nem rodoviária e continua sendo uma cidade dependente da capital.
Erminia Maricato anotou todos os questionamentos e dúvidas, e tentou contemplar a todos.
Conclusão
“Vocês de Contagem estão com meio caminho andado, só precisam se organizar e levar as ideia para outras cidades. Gostaria de convidar todos para conhece o BR Cidades e conhecer os projetos para as cidades que defendo”, finalizou Ermínia Maricato.
Congresso do Povo
Adriana Souza, mediadora do Congresso do Povo, professora e mãe de três filhos, disse estar preocupada com a falta de espaços para as crianças e jovens nas cidades. “Temos percebido que cada vez mais os espaços disponíveis estão inóspitos para todos, principalmente para as crianças”, ressaltou.
A mediadora finalizou a live agradecendo às dezenas de pessoas que participaram interessadas em construir uma cidade melhor para todos. Segundo Adriana Souza, outras edições do congresso estão sendo preparadas.
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