Foto: Renata Rocha
¹Wasney de Almeida Ferreira
O carnaval é uma festa pagã, criada pelos gregos, incorporada pela cultura cristã medieval e reinterpretada na modernidade, sendo uma forma de trasvasar energias reprimidas. Como o cristianismo é baseado na repressão da carne, dos instintos e desejos, o carnaval emergiu como momento para “soltar a franga”. Portanto, quem participa do carnaval pode agir de forma factual, fazendo coisas que irá se arrepender, ou de forma simbólica, vestindo fantasias e máscaras.
Primeiro, o natal, o nascimento de Jesus Cristo, um ser perfeito, sem pecados, capaz de pensar, sentir e agir corretamente, por ser o filho de Deus. Depois, o ano novo, com promessas de uma vida melhor, repleta de prosperidade, comemorado por meio de fogos, que simbolizam a consciência. No entanto, antes de colocar o ideal cristão em prática, um momento para a libertinagem, o carnaval, realizado factualmente ou simbolicamente. Após pecar, a quaresma, um período de arrependimento, resignação e penitência, que se encerra com a crucificação de Cristo. Por fim, a páscoa, momento de renovação e renascimento, representado pelo ovo da páscoa.
Participar do carnaval e não querer “soltar a franga” é o mesmo que ir numa igreja e não querer orar, pois a festa foi criada justamente para “soltar a franga”. Portanto, quem se sente envergonhado e culpado por ter feito coisas abomináveis, que não faria em outras ocasiões, não deveria se sentir surpreso ou assustado. Satanás é a tua própria sombra reprimida!
Finalizando, a “ressaca moral” após o carnaval é um exemplo de como a tradição cultural está incorporada nas pessoas, que pensam, sentem e agem sem saberem as causas.
¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)